O mundo agora é open. Quando se fala sobre serviços financeiros no Brasil, o Open Finance sempre é uma pauta relevante, um dos tópicos mais quentes atualmente e que promete revolucionar (e já está revolucionando!) produtos e serviços como conhecemos hoje. Mas isso não se limita ao Brasil.

Vários países estão se aproveitando do modelo inglês para adotar o Open Finance, realizando suas próprias versões de acordo com seu sistema financeiro atual.

Mas todos eles seguem uma linha em comum: o compartilhamento de dados financeiros como componente essencial para inovação e melhoria dos produtos e serviços para usuários, com soluções mais personalizadas e que de fato revolucionou a maneira com a qual veem seu dinheiro.

Para tornar isso realidade, todos esses países estão fazendo uso do conceito de API Economy, o uso de APIs enquanto solução tecnológica para abertura do sistema financeiro.


Começando pelo começo de tudo: Reino Unido

Tudo começou com a diretiva "The Payment Services Directive", uma lei aprovada em 2007 e que foi atualizada em 2015, dando origem à famosa PSD2. Quando o Open Banking surgiu, sua regulação se baseava no Payment Services Regulations (PSRs), por meio da Financial Conduct Authority (FCA). No Reino Unido, a CMA (Autoridade de Concorrência e Mercados), visava trazer mais competitividade ao mercado financeiro, pois percebeu que os bancos não tinham motivações para inovarem e lutarem por seus clientes. Com isso, foi regulado que os nove maiores bancos (que atendiam 99,9% da população), cumprissem a PSR, por meio de APIs.

Com isso, surgiram duas possibilidades:

1- O direito do consumidor de solicitar a terceiros que efetuassem seus pagamentos (Serviços de Iniciação de Pagamento);
2- O direito do consumidor de consentir que terceiros acessassem seus dados financeiros (Account Information Services).

Além disso, a Entidade de Implementação do Open Banking (OBIE) desenvolveu regras e diretrizes para que a experiência do usuário não fosse prejudicada em quesitos como segurança e UX.


India

Se engana quem acha que só muito depois começou-se a pensar em uma infraestrutura que incentiva a competitividade. Já em 2011 a Índia desenvolveu o “Índia Stack”, que pretendia promover a inclusão de neobanks e demais fintechs no mercado financeiro. Como consequência da competitividade desejada, outro ponto era a melhoria da prestação de serviços e criação de produtos mais personalizados. Em 2016 foi lançado o Unified Payment Interface (UPI), uma única plataforma móvel que permite aos usuários conectarem suas contas bancárias e realizarem transações digitais.


Japão

A economia japonesa ainda é fortemente baseada em dinheiro: quase 80% do total de transações.

Mas por lá o Open Banking já vem sendo implementado. Ele começou a ser trabalhado em 2015, mas ainda hoje existem muitos bancos que não são membros do ecossistema aberto, embora exista um departamento focado na elaboração de uma estratégia de coexistência entre serviços financeiros tradicionais e fintechs.


Coreia do Sul

A Comissão de Serviços Financeiros da Coreia do Sul lançou em 2019 o projeto do sistema financeiro aberto do país. No momento, apenas bancos de poupança e provedores de cartão de crédito podem operar, mas os planos pretendem englobar investimentos e serviços financeiros digitais. Além disso, há planos para que os usuários acessem todas as suas contas financeiras de um único aplicativo que permitirá uma visão holística de suas finanças.


Austrália

Na Austrália, o Open Banking é conhecido como Consumer Data Right (CDR), que foi regulamentado em 2020. Por lá, o foco do nome está em deixar claro que os cidadãos australianos são os donos de seus dados, e podem consentir para que terceiros regulamentos os acessem. O objetivo, como no Open Banking, é aumentar a concorrência, permitindo que terceiros inovem e tragam para os usuários novos aplicativos e serviços/produtos.


Hong Kong

Lá em Hong Kong, mais de dois anos depois que a Autoridade Monetária por lá, a HKMA, emitiu o Open API Framework, o projeto está estagnado. Segundo o Fintech News Singapore, a segurança de dados é um dos principais empecilhos para que o projeto deslanche. Mesmo assim, mais de 50% dos bancos estão desenvolvendo soluções inovadoras baseadas no ecossistema e em APIs abertas, como o aprendizado de máquina e análise preditiva, além de melhoria dos processos de onboarding.


Canadá

O governo canadense ainda não adotou o Open Banking. Por lá, as preocupações principais são a segurança dos dados e possíveis violações. Desde 2018 existe um comitê para analisar as possibilidades de implementação do ecossistema aberto, mas desde então as pesquisas não se tornaram realidade.


Singapura

A Autoridade Monetária de Singapura (MAS) está incentivando o uso de APIs terceiras, mas muitas instituições financeiras estão criando APIs para se tornarem parte do ecossistema aberto.


Estados Unidos

Nos EUA, não existe uma regulação vigente e focada em implementar o Open Banking. Por isso, muitas instituições financeiras não estão dispostas a compartilhar seus dados, já que é uma estratégia competitiva que pode não favorecer seus negócios.

Mesmo assim, algumas entidades, como Citibank, BBVA e Capital One, já estão desenvolvendo suas próprias APIs.


Alguns pontos interessantes depois dessa análise:

🧾 Uma regulação vigente em muito acelera o processo de inovação de uma inovação;
💡 O modelo do Reino Unido foi inaugural e é tomado como base para os demais, mas muito se leva em consideração as verdadeiras necessidades da população e do sistema financeiro em vigor.

Entenda melhor como funciona o Open Finance e qual a fase atual dele no Brasil.